top of page
Papéis Masculinos e Femininos no Casamento, Expectativas e Significados
Doris Stoehr Vieira de Souza – Psicóloga – CRP 08/04871
Nas sociedades tradicionais havia total ausência de afeto entre marido e mulher. Cada um tinha suas tarefas a cumprir e eram julgados pela comunidade de acordo com o cumprimento ou não dessas tarefas. Aos homens cabia serem dominadores, aterradores na sua autoridade patriarcal, egoístas, brutais e nada sentimentais; as mulheres deveriam ser leais, apagadas e submissas. Ou seja, esta desigualdade emocional de papéis geraram uma distância sentimental que era intransponível entre o casal. (SHORTER, 1975, p. 88) Com o surgimento da ideologia burguesa, a teoria da família baseava-se no postulado de que os papéis masculinos e femininos eram instrumentais e expressivos, respectivamente, sendo incompatíveis, ou seja, não podiam ser desempenhados pelo mesmo sexo. Por instrumental se entende a ligação com a sociedade, prover a família de bens materiais; exercer uma profissão e ser o ganha pão da família. Por outro lado, o papel expressivo, exclusivamente feminino, já que para esta visão era a mulher que exprimia melhor a vida afetiva da família, estando mais próxima dos filhos do que o pai, cabia as tarefas domésticas e o cuidado com as crianças. (MICHEL, 1983, p. 85) Este pensamento cai por terra quando nos reportamos à estrutura da família contemporânea.
Vivemos em uma época em que os papéis instrumentais e expressivos são compatíveis na mesma pessoa. Ou seja, tanto o homem quanto a mulher podem desempenhar ambos os papéis. Não é a diferenciação dos papéis masculinos e femininos que vai levar ao sucesso no casamento, muito pelo contrário, a flexibilidade dos papéis dos cônjuges é que traz a possibilidade de uma maior integração, comunicação, planejamento de vida e resolução de problemas do casal.
As expectativas com relação ao casamento parecem ser diferentes para o homem e para a mulher. De acordo com CARTER e MCGOLDRICK (1995, p.18) as mulheres tendem a ver o casamento com entusiasmo, embora estatisticamente ele não tenha sido um estado saudável para elas, enquanto que os homens tem o medo de ser “apanhado numa armadilha”, mas eles se saem melhor no estado casado, em termos psicológicos e físicos, do que as mulheres. Apesar do estereótipo cultural de que o casamento é algo que os homens devem temer, todos os resultados de pesquisas realizadas dizem o contrário, “que de todas as maneiras, o casamento melhora a saúde mental dos homens, enquanto em quase todos os aspectos, mentalmente, fisicamente, e mesmo nas estatísticas criminais, as mulheres solteiras são mais sadias do que as casadas”. CARTER e MCGOLDRICK (1995, p.185) Segundo pesquisas, as mulheres consideram o casamento como uma oportunidade de se aproximarem mais de suas famílias de origem, com os homens é o contrário. De acordo com CARTER e MCGOLDRICK (1995, p.40): Durante o namoro, os homens querem passar mais tempo com as mulheres de uma maneira que aumenta o senso de intimidade da mulher, depois do casamento eles tendem a passar cada vez menos tempo conversando com as esposas, muitas vezes considerando que fazer coisas na casa seja uma demonstração adequada de cuidado e intimidade, e sentindo-se mistificados com relação ao que as mulheres querem quando buscam maior contato e intimidade no relacionamento conjugal. As mulheres admitem mais problemas e avaliam seus relacionamentos. Para os homens o que é importante é a responsividade sexual de suas esposas e os interesses compartilhados enquanto que as mulheres esperam que eles se relacionem bem com suas famílias e amigos. Os homens avaliam como bom o casamento no que se refere a comunicação conjugal, relacionamento com os pais e relacionamento sexual. As mulheres classificam como problemáticos todos estes aspectos. As mulheres esperam fidelidade dos maridos e estes esperam mais a fidelidade de suas esposas do que de si próprios. CARTER e MCGOLDRICK (1995, p.40 – 41)
Como solução para estas questões CUSCHNIR (1992, p. 106 – 107) propõe que o casal deve manter a individualidade, onde cada um tem valores próprios a serem satisfeitos; o vínculo não deve estar estruturado somente nos papéis de provedor e provido pois isso vai estimular a imobilidade, impossibilitando o crescimento deste vínculo uma vez que não existirá mais condições dele se alimentar, de receber e trocar energia. CUSCHNIR (1992, p. 112 – 113) afirma que: O paradigma que mantinha o homem no poder e a mulher na desvalorização (um poder pelo avesso), precisa ser quebrado para se obter um novo ponto de equilíbrio, menos rígido e mais proveitoso para todos. Está sendo aberto, por homens e mulheres, um caminho irreversível para um novo tipo de relação simétrica onde os dois tenham espaço de crescimento e auto-realização. Estamos caminhando para um fortalecimento dos dois gêneros. Para a plena afirmação de cada um.
REFERÊNCIAS CARTER, B. e MCGOLDRICK, M. As Mudanças no Ciclo de Vida Familiar: uma estrutura para a terapia familiar. Trad. Maria Adriana Veríssimo Veronese. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.CUSCHNIR, L. Masculino / Feminino. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1992.MICHEL, A. Sociologia da família e do casamento. Trad. Daniela de Carvalho. Porto: RÉS-Editora, 1983.SHORTER, E. A Formação da Família Moderna. Trad. Teresa Pérez. Lisboa: Terramar, 1975.
bottom of page